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Remake de Star Wars feito por fãs

Agora os fãs de Star Wars podem brincar de ser George Lucas e dirigir sua própria versão do quarto filme da saga, Star Wars: Uma Nova Esperança. O projeto Star Wars Uncut permite que internautas selecionem até três trechos de 15 segundos cada e os regravem da forma que acharem melhor (há apenas algumas poucas regras que podem ser vistas no item “rules” da página).

Quem chegar primeiro marca a cena como sua e depois posta o resultado no site até 30 dias depois (o sistema lembra bastante o que foi usado para a leitura coletiva de Dom Casmurro no projeto online Mil Casmurros). Quando tudo estiver pronto, as peças serão encaixadas para compor este remake anárquico.

Pelo trailer que circula na rede (vídeo abaixo), já dá para perceber que o ponto alto da versão é a mistura de diversas linguagens:

Até o momento, 70% do filme está pronto. Então, corre lá para conseguir as cenas que ainda estão sem “dono”!

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Dica do Felipe Dalla Valle.

A palavra é dos fãs

Prática de fan fiction dá novas versões a histórias consagradas e aproxima pessoas dentro e fora do ambiente virtual

Cristine Kist, Giuliana de Toledo, Idiana Tomazelli e Mônica Reolom

Atualizado em 13/06/09, às 11h.

Quem pensa que as narrativas literárias estão restritas aos livros se engana. A internet vem abrindo espaço para que cada vez mais pessoas possam publicar seus textos. Além de inventar novas histórias, é possível recriar aquelas já consagradas conforme a vontade e a criatividade de seus fãs. As fan fictions – apelidadas de fanfics e também chamadas de webnovelas no Brasil – representam o desejo de poder dar rumos diferentes às conhecidas histórias ou escrever sua própria sequência antes mesmo da publicação oficial, caso comum nas séries Harry Potter e Crepúsculo. Quem reinventa as histórias pode ganhar também reconhecimento de outros fãs e se consagrar entre os adeptos das fanfics. O contato entre os leitores e os autores muitas vezes transcende o ambiente virtual e se transforma em amizade.

A série de Stephenie Meyer é assunto de diversas fanfics da atualidade / Reprodução

A série de Stephenie Meyer é assunto de diversas fanfics da atualidade/Reprodução

A iniciativa de dar continuidade às tramas, ou até mesmo recriá-las, não é nova. Já no século XVII, versões não autorizadas de Dom Quixote foram escritas antes da publicação do segundo volume da obra de Miguel de Cervantes (1615). Antes da internet, as fanzines – revistas produzidas por fãs – também traziam novos rumos para histórias como Star Trek. A grande vantagem que a web acrescentou é a possibilidade de publicação fácil e de amplo alcance. O site FanFiction.net, criado em 1998, é o maior portal de reunião desse tipo de texto na rede. Lá podem ser encontradas fanfics de livros, animes, mangás, filmes, desenhos animados, jogos, entre outras. No Brasil, uma proposta parecida foi lançada pelo portal E-Novelas. Além de sites especializados, há fóruns, grupos de e-mails, blogs e comunidades no Orkut destinados à atividade. O formato de publicação dos fóruns permitiu que leitores e autores criassem um vínculo maior. Nos comentários, é possível sugerir mudanças na história, elogiar ou simplesmente conversar com outras pessoas.

Fãs de webnovelas de RBD mantêm uma comunidade com quase 36 mil membros/Reprodução

Webnovelas de RBD reúnem 36 mil membros em comunidade do Orkut/Reprodução

A estudante Júlia Vieira, de 16 anos, é um dos casos bem-sucedidos de escritores de fanfics. Por conta de seus textos sobre a banda mexicana RBD, Júlia conquistou adeptos e hoje reúne mais de cinco mil membros em uma comunidade no Orkut dedicada a suas histórias. “Coloco no Orkut: ‘estou em tal cidade’ e as leitoras da cidade normalmente me pedem para encontrá-las e organizam um pequeno encontro”, conta Júlia. Muitas dessas reuniões resultam em amizades que ultrapassam as fronteiras do virtual. Além disso, sua notoriedade como escritora de fan fiction lhe rendeu uma aproximação com os ídolos. Em um show do RBD, algumas de suas leitoras entregaram à cantora Dulce María cópias de seus textos: “[Ela] respondeu dizendo que havia lido e até citou um pedaço da estória”, orgulha-se.

Leia aqui uma das histórias de Júlia Vieira.

Experiência parecida foi vivenciada por Marianne Brum, 18 anos, que costumava frequentar fóruns e ler fanfics relacionadas a Harry Potter. “Era comum as pessoas viajarem pra se encontrar […]. Foi assim que eu conheci pessoalmente algumas pessoas com quem eu já tinha falado pela internet”, lembra. No entanto, nem sempre as fan fictions rendem amizades além do meio virtual. Atualmente, Marianne só lê fanfics “quando bate uma nostalgia e falta do que fazer” e raramente conversa com os amigos feitos nos fóruns de discussão. Já Marina Valenzuela, de 18 anos, costumava escrever histórias sobre núcleos secundários da trama de Harry Potter, mas nunca teve um encontro com os leitores.

Criar uma história para publicar na internet pode contribuir para o desenvolvimento da criatividade e, até, revelar vocações. Marcelo Spalding, escritor e doutorando na área de literatura e novas tecnologias da UFRGS, acredita nesse potencial: “Se um gênio […] faz uma fan fiction de uma outra obra, a obra dele pode ser melhor que a original”. A criação a partir de uma história já existente, segundo Spalding, não diminui a validade do texto: “Não dá para a gente se prender na ideia de original e cópia. O que importa é a criatividade”, ressalta. O escritor lembra ainda que o recurso de fazer versões para outros livros sempre foi comum entre escritores.

Clique aqui para conferir a entrevista com Marcelo Spalding.

Com as fanfics, Júlia Vieira tomou gosto pela escrita e agora pretende seguir carreira no Jornalismo. Outro desejo da estudante é ver um de seus trabalhos publicados em forma de livro, mas acha que ainda não está pronta: “Ainda tenho que melhorar muito na minha escrita e nos rumos de minhas estórias, mas quem sabe, um dia, consiga publicar algo”. As fanfics também podem ajudar na formação de leitores: “Só comecei a ler autores mais clássicos a partir de fanfics de Harry Potter, por exemplo”, conta Marianne.

A saga de Harry Potter é campeã de fanfics na web

A saga de Harry Potter é campeã de fanfics na web/Reprodução

O fenômeno Harry Potter é o mais popular entre os adeptos das fan fictions – só no FanFiction.net existem mais de 400 mil publicações sobre a obra de J.K. Rowling. Tamanha repercussão levou a autora britânica a se manifestar sobre o assunto através de sua assessoria de imprensa. Ela se disse lisonjeada pelo interesse dos fãs, mas ressaltou que os textos não podem ser feitos com interesses comerciais e devem deixar claro que não são de autoria da criadora da saga. Outra escritora que se mostra favorável é Stephenie Meyer, autora do sucesso Crepúsculo. Em seu site oficial, Stephenie reserva espaço para links de páginas de fãs. Já Anne Rice, escritora do livro Entrevista com Vampiro, é contrária à apropriação de suas histórias e pediu para os responsáveis pelo site FanFiction.net tirarem do ar textos referentes à sua obra. Como os escritores de fanfics se apropriam de elementos da criação original de outros autores, a prática desrespeita as leis de direitos autorais – com exceção de personagens que já tenham caído em domínio público. Cabe então ao autor original proibir ou incentivar as fanfics.

As múltiplas releituras das histórias originais podem causar temor entre os criadores, que perdem controle sobre os rumos da própria obra. “[Os leitores] podem fazer uma fan fiction para ajudar, para colaborar, mas podem fazer uma paródia, um pastiche daquela obra, que vá inclusive contra o que ela havia planejado”, analisa Marcelo Spalding. No entanto, o modelo de publicação das fanfics pode se tornar um aliado e servir até de inspiração para os profissionais da literatura: “É possível que alguns escritores façam o caminho, até meio comercial, de escrever uma parte, esperar o retorno dos leitores e depois fazer a continuação”, reflete Spalding.

Confira alguns sites e comunidades dedicados a fan fictions:

FanFiction.net

E-novelas

– Verbete na Wikipedia sobre fan fiction em inglês/em português

– Comunidade Web Novelas no Orkut

Veja o depoimento de Idiana Tomazelli, uma de nossas blogueiras, sobre as amizades que fez por meio das fanfics.

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.